sentia as fontes latejautes e o suor frio da agonia perlando-lhe a fronte. Jogava a ultima moeda.
— Zero.
Foi se tudo, tudo. Era o desmoronamento de todos aqueles castelos architectados havia mais de 12 horas, de todo esse mundo de ambições, de esperanças, de soberba, no pelago das torturas e humilhações, que decerto lhe tinham tornado essas malditas horas as mais fatigantes e crucis de toda a sua vida.
Oh! maldito jogo! E as moedas dançavam-lhe diante dos olhos, n'uma dança macabra, tilintando gargalhadas sardonicas! E via bocas disformes a rirem, n'uns esgares diabolicos e medonhos, que o enlouqueciam! Uns pezinhos, roxos do frio, lhe apareciam a sumirem-se n'um sudario branco, que os ia envolvendo, emquanto a fronte pálida de una muIher, pendida sobre êles, tentava aquecê-los, com os seus labios resequidos pela febre, e a sua voz eufraquecida murmurava:
— Jayme, Jayme! porque não vendes o quadro? O nosso filho morre de fome!...
Formaram-se-lhe soluços na garganta, olhou em volta, tôrvo e desvairado, e agitando os braços, gritou enlouquecido:
— Ladra! ladra de sorte! quero o meu dinheiro, os meus 5$000 réis!
Luzes, como fogos fatuos, rodopiavam ante os seus olhos, alumiando todas aquelas caras pálidas de olhares coriscantes, que o perseguiam, com um cascalhar de risadas pavorosas, de mistura com soluços estrangulados... Braços esqueleticos estendiam-se,