Como êle se sentia criminoso! Aquele dinheiro, miseravelmente perdido, como iria minorar tamanho infortunio!
— Covarde, covarde que eu sou! — rouquejava, com o coração a saltar-lhe do peito, confrangido pela miseria que o esperava.
Encaminhou-se, vacilante, para a porta. O luar fazia brilhar as pedras humidas da calçada.
Levantou os olhos ao Ceu, n'um ultimo apêlo à piedade divina, e, ao tirar o lenço para enxugar o rosto humedecido pela geada, cahiu-lhe do bolso um papelinho, dobrado. Surprehendido, apanhou-o.
Sonhava, ou era ludibrio de uma alncinação?
Uma nota de 5$000 reis!... Pasmado e trémulo, fitou aquela fortuna inesperada... Duas lagrimas soltaram-se lhe dos olhos, até ali resequidos, e deslisando suavemente pelas faces pálidas, iluminadas pela lua, foram cahir no abençoado papel...
Tinha comprehendido.
Uma esmola! — soluçava êle — a boa rapariga!...
Sim, a boa rapariga, que, escondendo o grande coração n'um pobre corpo perdido, fingira zombar d'êle, ao meter-lhe a nota na algibeira, para o não envergonhar com a esmola e... para que se não rissem d'ela!...
Subin os degrans a dois e dois, precipitando-se para o pobre quarto. Apenas uma nesga de luar alnmiava o leito onde estava, meio deitada, a pobre Martha, de olhos abertos, anciosa, esperando-o...
— Perdoa, minha filha, dizia-lhe êle, mostrando-lhe