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A dança do destino
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— É minha tia.

Mudança de aspecto e de atenção das interlocutoras, que passavam logo de carinhosas a indiferentes.

A pequena afastava-se. Chegava a tia: grande efusão de cumprimentos, e em seguida:

— Já falei com a sua sobrinha: é uma criança tristonha e de poucas palavras.

— Não se admirem, minhas amigas, porque para mim é a mesma cousa.

— Pobre senhora! não tem filhos mas tem cadilhos, o que é muito peior.

A serafica tia erguia os olhos, num gesto maguado, e começava a enumerar as ingratidões da sobrinha.

Era então nm estendal enorme d'elas, entre as quaes, a que mais avultava, era a da pequena chamar sempre pela mãe, quando tinha qualquer aflicção.

— Como se eu não fosse a verdadeira mãe! — rematava, toda ofendida.

Realmente era triste, apoiavam as visitas, indignadas. Que ingrata!

E a pequena criminosa, ali, a nm canto, silenciosa, sentia trespassarem-na, como se fossem setas, os olhares, entre desdenhosos e severos, de todas aquelas boas criaturas.

Ah! estava tão farta d'isto! E, ao afastar-se, ainda ouvia esta frase de amarga consolação:

— E lembrar-se a gente que vae procurar trabalhos por suas mãos!