— É verdade, minhas senhoras; sempre são cadilhos, não são filhos.
E o concerto dos suspiros desolados perdia-se ao longe.
Cadilho! Como esta palavra a feria, como ela se lhe tornou obsessionaria, à força de ouvi-la, a pobre criança! E por mais que fugisse para o fundo da casa ou para o alto do terraço, para a não ouvir, soava-lhe sempre na alma, perseguia-a em toda a parte, adivinhava-a, escutava-a incessantemente, ofendendo-a, magoando-a, fazendo-a sofrer até às lagrimas.
Cadilho! Designação fria, desdenhosa e cortante que lhe retinia no cerebro como uma maldição!
Nas terras de provincia qualquer ninharia alimenta o soalheiro: e a criança, sentindo-se tão numerosas vezes discutida, já quasi instinctivamente compreendia essa hostilidade invejosa que a perseguia.
O resto da familia era unanime na opinião de que Lia devia ser muito feliz. Não era mesmo raro ouvir-se-lhe comentar a boa sorte d'ela. Que não lhe faltava nada; que a tia ainda era capaz de lhe deixar tudo, com prejuizo dos outros parentes; que, finalmente, aquilo é que tinha sido uma sorte.