cação do filho, foi despedir-se da filha. Tinha então a pequena sete annos, e a mãe, para evitar despedidas lancinantes, um dia de madrugada, partiu, deixando-a ainda adormecida.
Ao beijá-la, sufocando os soluços para a não acordar, poz-lhe ao pescoço, muito suavemente, um fio de perolas, d'onde pendia uma cruz.
Aquelas perolas ficavam, no pescoço da pequena Lia, como um fio de beijos a recordar as saudades que a mãe levava no coração.
A pequenita, ao despertar, dando pela falta da mãe, e compreendendo que ela tinha partido, vestiu á pressa o seu roupãosinho branco, subiu ao terraço, d'onde se avistava o mar, e ali se conservou por muito tempo, acenando com o lenço molhado de lagrimas, para um navio que se afastava, até que, muito ao longe, se perdeu nas brumas de um horizonte infinito...
Pobre Lia! talvez que visse já nesse insondavel horizonte como que a visão do seu futuro, vago, brumoso e indeciso, oscilando entre o abismo e o ceu!...
Pouco tempo depois, a tia de Lia vinha para Lisboa, trazendo a sobrinha comsigo.
O resto da infancia, passado na capital, foi verdadeiramente asfixiante. Sentindo já as revoltas da mocidade oprimida e a injustiça da solidão que a rodeava, em meio de toda essa gente indiferente, calcava assim, dia a dia, no fundo do seu coração, os meigos transportes de uma alma boa, que só precisava, para se expandir, dos afectos e alegrias proprias da mocidade.