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Collecção Antonio Maria Pereira

— Então o que foi? inquiriu a mãe, com compassiva curiosidade, ao mesmo tempo que a criada estacava com a travessa dos bifes na mão, curiosa de saber o acontecimento.

— Ora, o que havia de ser! o que eu já suspeitava ha muito. O comunista foi preso hontem à noite, por ladrão. Uma das associações em que era empregado descobriu que êle a roubava ha muito tempo. Deu parte á policia e esta filou-o, hontem à noite, num botequim da baixa, onde êle se emborrachava de companhia com uma d'essas mulheres de vida airada, que era afinal quem lhe comia o dinheiro.

— Bem feito! — disse a creada, compondo uma expressão severa de moralista.

A ama meneou a cabeça, com tristeza, murmurando:

— Coitado!

E o pequeno Mario sentiu o coração contrair-se, numa grande angustia, lembrando-se do desgosto do pobre Arthur.

Nesse dia, nem nos seguintes, Mario não tornou a ver o amigo.

Passou-se muito tempo assim, mas êle não o esquecia.

Que seria feito do Arthur? Quanto devêra ter sofrido, e quanto choraria ainda, o pobre rapaz!...

A sua consciencia dizia-lhe que o pae tinha cometido uma má acção, que essa acção era condenavel; mas a sua inteligencia, o seu raciocinio, formado nos principios que lhe ouvira, dizia lhe que a má acção não existiria, não se teria dado, se o mundo