Página:A Dança do Destino - Lutegarda Guimarães de Caires (1913).pdf/96


94
Collecção Antonio Maria Pereira

para uma vendedeira de pevides e fava torrada, pedia:

— Um vintem de fava torrada, tiazinha.

— Pronto, minha santa; faz muito bem á voz.

Depois continuou a percorrer as ruas da feira, com o seu estado maior ao lado. Tasquinhava nas favas com os seus deutinhos brancos e aguçados, e, olhando o amante, que todo se desvanecia, dizia-lhe muito gaiata:

— Vês como eu mordo? assim é que eu lhes faço a vocês! deito fóra a casca e trinco o miôlo... e eu tenho bons dentes!...

— É muito chic esta Maria Julia! — casquinava o de monoculo.

Entraram, por fim, no animatografo.

— Oh! senhores, que enorme calor! mas em companhia da Maria Julia tudo é divertido, — exclamavam os amigos do Arthur.

Depois, o figurino, assestando o monoculo para as burguesinhas que lá estavam, dizia alto:

— Bem boas estas pequenas! Não teem muito chic, é verdade, mas vá lá, vá lá... são galantes!...

As meninas olhavam despeitadas.

— Credo! — disse a mais altiva, — que peralvilhos estes!

— Ó Mimi, — dizia a outra, depois de ter estado cinco minutos a examinar o chapeu da Maria Julia, — tu não vês o descaro d'estes tipos, virem para aqui com as cocotes?

Então a tia, que estava ao pé, uma senhora do oculos e com um nariz de cavalete, muito vermelho,