— Não me insulte, snr. Seabra. Nunca fiz tal... Cabeças como a de V. Sa. costumam enganar sempre e todavia não se conhecem!.. Alegre-se comtudo. Dos pobres d'espirito é o reino do ceu... Esta é a consolação dos tolos...
O insulto era demasiadamente pesado e Sebastião não era homem, que se calasse. Respondeu com outro:
—Queira desculpar, minha senhora. Quando eu passava do lado do norte pensava que V. Exc.a me estava vendo e agora venho a saber que olhava para o Sul.... Enganei-me. Os culpados foram os olhos de V. Exc.a, que são petos, petos, vesgos horripilantemente, insupportavelmente, detestavelmente. E adeus excellentissima senhora.
Alberto Pimentel.
O teu cabello seja á minha fronte rêde,
o teu seio à minha alma um remançoso abrigo;
com o mel de teu labio apaga a minha sede,
com tuas mãos aparta esse veu, que me impede
de ver, no ceu, à luz da estrella, que persigo.
Sê tu a cruz divina, onde extenda meu braço,
onde expire, ao gemer dos hymnos d'uma rôla,
mais ondas de harmonia a rebentar no espaço
hei-de sentir, mal caia emfim meu corpo lasso
sobre o teu coração, ó timida papoula.
Mas deixemos a morte, o teu riso escurece
da desventura o rir... com teu choro onde ha abrolhos?.
Pede por mim ao sol, ao sol que já languece,
que apague o seu fanal, que a sua queda apresse,
para luz já me basta o lume de teus olhos.
Inda é cedo!.. suspende a voz, que me enamora..
No pó d'ouro que arroja a sandalia de Deus,
em tanta vaga azul, phosphorescente agora,
quero o epithaphio ler d'uma nascente aurora,
quero aprender a amar n'este hymeneu dos ceus!
SOUZA BITERVO.
E' triste que n'aurora da existencia
Não reste uma só flor! que desfolhadas
Uma a uma, vão ser arremessadas
No arido recinto da exp'riencia!...
E' triste que me abrace à va sciencia,
Deixando minhas crencas sepultadas
Na valla do soffrer! Risonhos nadas
Fugitivos como os sonhos da innocencia!
Na quadra mais amena d'esta vida
E' triste ver fugir p'ra sempre os annos
Sem sombras de ventura appetecida!...
Cançadas de soffrer acerbos damnos
da campa me sorria, imagem q'rida,
Por entre o frio pó dos desenganos.
- Lodeiro, 4 de junho de 1865
Henriqueta Eliza
Que te falta minha bella
Entre os mimos d'este harem?
Mais grandezas do que tu,
O' por certo ninguem tem!
Rodeiam-te ouro, diamantes,
Pizas estofos dourados
Que te falta? Por qué exhalas
Esses ais tão magoados?
Por ti foram olvidadas
Mil bellezas d'este harem,
Só tu reinas na minh'alma,
Ah! não amo mais ninguem!..
Nos jardins scismando á noute.
Por que t'encontro sósinha?
Que falta á tua ventura,
O' dize-me estrella minha?
Por que te ergues quando a aurora.
Junto ao lago divagando
E volvendo ao céo teus olhos.
Tristemente suspirando?
Para que das avesinhas
O destino tanto invejas
Que posso mais offertar-te,
Diz ó bella o que desejas?
Por que tanto amas Zolmira
Dos bosques a solidão,
Por que não és tu feliz
Dando-te o meu coração?
Por que já da rubra rosa
Teu rosto não tem a cor?
D'onde provém esse pranto?
Diz-me o que tens meu amor!