Paulino veio dar o braço ao seu par, e conduziu-o para o meio do salão. Eduardo foi convidar Clotilde.

A menina acceitou,mas dançou pouco tempo; o filho do barão assentou-se ao pé d'ella.

Eugenia continuava a dançar; sua figura esbelta sobresahia garbozamente nos elegantes passos da polka.

Clotilde olhava, não com inveja, por que um sentimento muito baixo para o seu elevado espirito, mas sim com admiração para a filha do visconde: e sentia no coração um aperto que já mais havia experimentado.

Pobre menina! era o relador ciume que acabava de entrar no seu coração!! Sim, era o ciume, esse martyrio que forma sempre a vanguarda do amor.

Subio de ponto o seu supplicio quando Eduardo lhe disse:

― Eu tenho admirado o tempo que Paulino tem dançado!

Quem o vio á tres mezes luctando com a morte se se lembraria que lhe havia de escapar de suas sanguinoletas garras!

― Elle esteve muito em perigo de perder a vida, disse a menina.

― O seu padecer era mais moral do que phyico, acrescentou o mancebo, foram desgostos por cauza da infedilidade d'uma nimfa aquem elle adorava... Todas as senhoras dos nossos sitios o deviam desprezar, para o castigarem por aquelle acto de loucura imperdoavel! Esquecer-se das divindades suas vizinhas para se ir apaixonar tão longe de quem logo lhe foi infiel. Mas é tão feliz que o castigo que lhe applicam é darem-lhe a proferencia sobre todos; e parece-me que D. Eugenia o fará esquecer de todo da sua bella infiel.

Todas as palavras do mancebo eram punhaladas que varavam o coração de Clotilde! os beiços descorados tremiam n'uma convulsão nervoza, o peito anciado arfava-lhe que fazia estalar as roupas! um deslumbramento repentino segou-lhe a vista; quiz dizer alguma coiza, mas as palavras soffocadas não se articulavam. Fez um esforço para se levantar, e os joelhos descairam!!

Tudo isto passou com a rapidez do relampago; uma centelha de indignação brilhou no palido rosto de Clotilde. Envergonhou-se de si propria, de amar um homem que lhe não correspondia. Lembrou-se então que Eduardo podia reparar no seu desasocego, e ajuizar mal d'elle. Com voz, que ella fez por tornar socegada perguntou-lhe:

(Continua).


 
Lagrimas d'Amor
 

 
(Ao meu amigo Elias Fernandes Pereira.)
 

Que tens tu, pobre Maria?
Que rosto tão descorado!
De certo foi mau olhado
D'alguem que mal te queria!..

A melhor das raparigas
Entristecel-a quem soube?!
Já nas ceifas ninguem ouve
As tuas doces cantigas!

Mais e mais teu rosto perde
Sua côr, de dia a dia!
Pore não danças, Maria,
Ao domingo, a cana-verde?!

Que é da saia cor de rosa,
E do teu lenço de cassa?
Anjo, que grande desgraça
D'alegre te fez chorosa?..

Nem te vestes como d'antes!
Succumbes assim á magua!
E sempre, sempre um veu d'agua
Te encobre os olhos brilhantes!..

Tua mãe quasi endoidece,
Desgostosa de tal vida,
Ao vêr na fronte pendida
Signal de que a dor recresce!

Já não têm quem de si trate
Os cravos e os lilases,
Que trazias aos rapazes
No teu pequeno açafate!.,

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Por fim o anjo adoece,
Suffocado de desgosto!
E mais lhe descora o rosto!
E mais o olhar languece!..