Na frente do palácio de certo rei do Oriente havia um morro que lhe estragava o prazer. Êsse rei, apesar de ser vesgo, tinha uma grande vontade de «dominar a paisagem»; vontade tão grande que êle não pôde resistir, e lá um belo dia resolveu secretamente arrazar o morro. Tratava-se, porém, de um morro sagrado, chamado o Morro da Democracia, e defendido pelas leis básicas do reino. Nem essas leis, nem o povo jamais consentiriam em sua demolição, porque era justamente o obstáculo que limitava o poder do rei. Sem êle o rei dominaria ditatorialmente a paisagem, o que todos tinham como um grande mal.
Mas aquele rei, que além de vesgo era malandro, tanto expremeu os miolos que teve uma idéia. Piscou e chamou uns cavouqueiros, aos quais disse:
— Tirem-me um pouco de terra dêsse morro, alí onde ha umas touceiras de cragoatá espinhento. Se o povo protestar contra a minha mexida no morro, direi que é para destruir o cragoatá espinhento; e que se tirei um pouco de terra foi para que não ficasse no chão nem uma raiz ou semente.
Os cavouqueiros arrancaram os pés de cragoatá e removeram vários carroças de terra. O povo não protestou; não achou que fôsse caso disso. Só alguns ranzinzas murmuraram, ao que os apaziguadores responderam: «Foi muito pequena a quantidade de terra tirada; não fará falta nenhuma».
Vendo que não houve protesto, o rei, logo depois, deu nova ordem aos cavouqueiros para que arrancassem outro pé de qualquer coisa, mas com terra — êle fazia muita questão de que a planta condenada saísse sempre com um bocadinho de terra… Continuando o povo a não protestar, prosseguiu o rei por muito tempo naquela política de «extirpação