para punir uma culpada. O que a afligia eram os meios de que lançara mão para conhecer a verdade. A espionagem do negro... a intervenção da cartomante... oh! como isso lhe repugnava agora, bem a sós com a sua consciência! Valera a pena viver uma vida pura e nobre, para na velhice fazer aqueles desatinos?

O retrato da filha, suspenso à cabeceira da cama, absolvia-a daquela culpa, sorrindo-lhe docemente de entre a onda pálida dos cabelos soltos.

A baronesa sentia nojo pelas armas que ia preparando para o combate. Repugnava-lhe ter de servir-se da adivinha e do Feliciano. Receava acreditar demasiadamente na primeira; temia fazer-se eco dos despeitos do segundo... e todavia aceitava as indicações da cartomante, espantada de lhe ter ouvido referências tão verdadeiras... e dera o passo repugnante de induzir o criado à espionagem!

– No dia em que eu receber a carta, revelarei tudo a meu marido, – decidia ela – e se nada receber... não tornarei a voltar à d. Alexandrina... Que poderá aquela fraca criatura contra as disposições do destino? Velha tonta que eu sou!

À hora do jantar, quando a avó de Glória apareceu na sala, notou toda a gente que ela estava pálida, com olheiras pisadas e um sorriso forçado que não conseguia levantar-lhe os