– Fala à vontade. Ninguém nos ouve.
– Que confiança!
– Absoluta.
– É extraordinário!
– É extraordinário. Desde que esta mulher entrou em minha casa eu sou outro homem, muito mais tranqüilo e muito mais feliz. Nunca a vejo, mas sinto-a; a sua alma de moça como que enche estas salas vazias de juventude e de alegria. Sozinho com os criados, eu abandonava-me. Ia às vezes para o almoço de chambre e de chinelos; passava pelo jardim sem olhar para os canteiros; e, no escrúpulo de alterar as coisas da antiga ordem em que as dispusera minha mulher, deixava-as envelhecer monotonamente, sem uma reforma que as alegrasse. Eu estava mofado, tinha bolor na alma. Botava pontas de cigarros pela casa... estava, enfim, de um desmazelo torpe! Depois, sentindo a influência dela, percebendo-lhe os gostos finos, que em tudo se demonstravam, comecei a exigir de mim hábitos mais corteses e a tratar a minha pessoa com mais consideração e maior carinho. A idéia de que ela poderia ver-me por uma fresta da veneziana, quando eu ia para a rua, fazia-me prestar atenção ao meu jardim e observar o seu progresso e melhor tratamento... Almoçando, eu via na cadeira vazia em frente ao meu lugar, a minha governanta a observar por que maneira eu levava o garfo à boca