que o padre Assunção conversava às vezes sobre literatura antiga, certo de que os bons livros espirituais, como os profanos, tinham a mesma admiração no juízo competente daquele homem de tão esperta sagacidade.

Houve uma pequena pausa no jogo; o Feliciano entrou com os cálices de Chartreuse. No abrir da porta ouviu-se o barulho da chuva batendo com força nos ladrilhos do terraço, e um arrepio de frio fez voltar-se o dr. Argemiro, que estava de costas para a entrada.

– Ó Argemiro, onde arranjaste tu este Feliciano? – perguntou Caldas, mirando o copeiro, um negro de trinta e poucos anos, esgrouviado e bem vestido.

– Na família da minha sogra... é filho da ama de minha mulher.

– Se não fosse relíquia de família, pedia-to para mim.

Feliciano, servindo a todos como se não tivesse ouvido coisa nenhuma, substituiu por outros os cinzeiros já repletos e tornou a sair, silenciosamente.

– Se me não engano, – observou o Armindo Teles – vi-o outro dia em casa de Lolota...

– Ah! também você?...

– Que! ir à casa da Lolota? Mas toda a gente vai à casa da Lolota!

– Até o Feliciano... murmurou Caldas.