gloriosas que eu derramava pela vastidão do templo eram formadas pelas vozes delas, ressuscitadas miraculosamente naquelas endeixas sacras... Não eram só vozes humanas que eu reconhecia nas sonoridades da minha música, eram também outros sons que tenho sempre guardados no ouvido: o ranger da porta do seminário... o badalar do sino para a minha primeira missa... e o rugido das sedas de tua mulher no dia em que me foi fazer a primeira confissão... Nunca me esqueci... foi como um ruflar de asas... Pois a minha alma transportava essas impressões em largos cânticos, vendo as imagens extáticas todas voltadas para a chuva do meu pranto e sentindo a minha alma encher o mundo! Um sonho de artista genial, e em que eu gozei as alegrias fecundas da criação. Não te parece que sejam os artistas os homens mais felizes da Terra?
– Tenho convivido pouco com eles, e como não me basta imaginar... Quem sabe? Olha, toma vinho. Creio que te basta o da missa...
– Pouco mais Que é isso?!
– Nada...
Argemiro tivera um pequeno sobressalto involuntário, vendo a mão negra do Feliciano pegar na porcelana cor de leite do seu prato.
– Nunca te aconteceu, ao ter qualquer impressão, sentir mau ou bom gosto na boca?
– Nunca, respondeu o padre.