– Pois agora foi como se eu tivesse tomado uma colher de sumo de limão!
O olhar de Argemiro acompanhou o vulto do negro, que se dirigia para a copa. Assunção argumentou:
– Está nas tuas mãos o remédio.
– Despedi-lo?
– Pois então?
– Acabo por fazer isso mesmo. Realmente, não há nada como a ignorância para certa gente. Meu sogro fez de um moleque humilde, um homem ruim... Se em vez de o mandar para a escola, com bolsa a tiracolo e sapatinhos de botões, o deixassem na modéstia da cozinha ou da estrebaria, ele não teria agora nem a revolta da sua cor nem a da sua posição... O que o torna mau é a inveja e a sua ignorância mal desbastada.
– Ele não é tão mau assim!
– Defende-o agora!
O Feliciano voltou com a sobremesa, um doce novo, desconhecido de ambos e que o copeiro não teve remédio senão confessar ter sido preparado por d. Alice, receoso de que ela o ouvisse por detrás das portas.
Depois do café, ao entrarem os dois sozinhos para a biblioteca, Argemiro notou:
– Foi o meu último dia de bem-estar. Reparaste? Nada faltou. É uma alegria, uma casa assim! E rara, eu sei, nas minhas condições, raríssima!