– Contra a minha expectativa, aprova a tua resolução...

– Por força.

– Mas não acredita que se possa viver sob o mesmo teto com uma criatura sem nunca lhe pôr a vista em cima.

– Com esta, coitadinha, parece-me que isso há de ser fácil. Confesso-te até que a sua fealdade me desconcertou. Eu desejaria uma governanta bonita, ou pelo menos graciosa. A beleza sugestiona e dá a tudo que a rodeia um movimento de elegância. Imagina, se ela efetivamente for aleijada. Será escarnecida pelos criados e furtará toda a originalidade à nossa situação!

– Preferes o perigo...

– Para pôr à prova a minha impassibilidade e dar-me ares de herói – respondeu, rindo, Argemiro. – Preciso exercitar a minha vontade e o meu sangue frio.

– Tolices!

– Mas que queres que eu te diga, a ti, que me conheces de cor e salteado?! Vens com uns ares esquisitos assustar-me com um futuro que não promete coisa nenhuma! Tu bem sabes que o verdadeiro motivo desta imposição está nisto: ser-me-ia penoso ver agitar-se em torno de mim uma mulher, nesta casa, onde nenhuma outra entrou depois que morreu a minha. A minha viuvez é tão saudosa, tão viúva, que