– Não achas também indigno que ele dê as jóias da mulher a uma rapariga de maus costumes e que meteu em casa, precisamente na casa onde viveu a outra e que está ainda toda cheia dela?
– Parece-te a ti. Ele, o viúvo, deve ter sentido o isolamento daquela casa, onde por nove anos viveu sozinho! Nove anos não são nove dias. Outro fosse ele... De mais a mais no Rio de Janeiro, que é a terra da tentação!
– Defendes o Argemiro!
– Tu havias de compreendê-lo e dar-lhe razão se...
– Se eu fosse homem...
– Ou se não fosse mãe de Maria...
– Maria! Acredita, ela renasce todos os dias, sinto muitas vezes o peso dela sobre os meus joelhos, ou dos meus braços, como quando a adormecia... Vejo-a desde pequenina, e de quando andava por aí correndo com o seu bibi branco e o cabelo solto, lembras-te? Tão linda! até depois, já mocinha... e sempre, sempre, tenho-a comigo, só comigo! Às vezes sinto nos dedos a seda dos seus cabelos tão finos e no rosto a doçura dos seus beijos... Sei que é ilusão, mas quem nos diz que no mundo não seja tudo ilusão?
A alma perfeita e amorosa de Maria não está longe de nós, mesmo que esteja no céu. É a minha convicção.