a olhar, calados, aquella sumptuosa noite do Egypto. As estrellas eram como uma grossa poeirada de luz que o bom Deus levantava lá em cima, passeando sósinho pelas estradas do céo. O silencio tinha uma solemnidade de sacrario. Nos escuros terraços, em baixo, uma fórma branca movendo-se por vezes, de leve, mostrava que outras creaturas estavam alli, como nós, deixando a alma embeber-se mudamente no esplendor sideral: e n’esta diffusa religiosidade, igual á d’uma multidão pasmando para os lumes d’um altar-mór, eu sentia subir aos labios irresistivelmente a doçura d’uma Ave-Maria...

Ao longe o mar dormia. E, á quente irradiação dos astros, eu podia distinguir, n’um pontal de arêa, mergulhando quasi n’agua, uma casa deserta, pequenina, toda branca e poetica entre duas palmeiras... Então comecei a pensar que, mal a titi morresse e fosse meu o seu ouro, eu poderia comprar esse dôce retiro, forral-o de lindas sêdas, e viver ao lado da minha luveira, vestido de turco, fresco, sereno, livre de todas as inquietações da civilisação. Desaggravos ao Sagrado Coração de Jesus ser-me-hiam tão indifferentes como as guerras que entre si travassem os Reis. Do céo só me importaria