A minha luveirinha ergueu-se, tremula, descórada — e teve um poetico rasgo de paixão. Enrolou a sua camisinha, atirou-m’a para os braços, tão ardentemente, como se entre as dobras viesse tambem o seu coração.
— Dou-t’a, Theodorico! Leva-a, Theodorico! Ainda está amarrotada da nossa ternura!... Leva-a para dormires com ella ao teu lado, como se fosse commigo... Espera, espera ainda, amor! Quero pôr-lhe uma palavra, uma dedicatoria!
Correu á mesa, onde jaziam restos do papel sisudo em que eu escrevia á titi a historia edificativa dos meus jejuns em Alexandria, das noites consumidas a embeber-me do Evangelho... E eu, com a camisinha perfumada nos braços, sentindo duas bagas de pranto rolarem-me pelas barbas, procurava angustiosamente em redor onde guardar aquella preciosa reliquia d’amor. As malas estavam fechadas. O sacco de lona estalava, repleto.
Topsius, impaciente, tirára das profundezas do seio o seu relogio de prata. O nosso Lacedemonio, á porta, rosnava:
— D. Theodorico, es tarde, es mui tarde...
Mas a minha bem-amada já sacudia o papel, coberto das letras que ella traçára,