minha alma n’um terror sombrio: — o terror do servo negligente diante do amo justo! Estava eu bastante purificado com jejuns e terços para affrontar a face fulgurante do meu Deus? Não! Oh mesquinha e amarga deficiencia da minha devoção! Eu não beijára jámais, com sufficiente amor, o seu pé dorido e rôxo na sua igreja da Graça! Ai de mim! Quantos domingos, n’esses tempos carnaes em que a Adelia, sol da minha vida, me esperava na travessa dos Caldas, fumando e em camisa — não maldissera eu a lentidão das Missas e a monotonia dos Septenarios! E sendo assim do craneo á sola dos pés uma crosta de peccado, como poderia meu corpo não tombar, já reprobo, já tisnado, quando os dois globos dos olhos do Senhor, como duas metades do céo, se voltassem vagarosamente para mim?
Mas vêr Jesus! Vêr como eram os seus cabellos, que pregas fazia a sua tunica, e o que acontecia na terra quando os seus labios se abriam!... Para além d’esses eirados onde as mulheres atiravam grão ás pombas; n’uma d’essas ruas d’onde me chegava claro e cantado o pregão dos vendedores de pães azymos — ia passando talvez n’esse temeroso instante, entre barbudos, graves soldados romanos, Jesus, meu Salvador,