moço de Galilêa que, cheio d’um grande sonho, desce da sua verde aldeia para transfigurar todo um mundo e renovar todo um céo, e encontra a uma esquina um Nethenim do Templo que o amarra e o traz ao Pretor, n’uma manhã d’audiencia, entre um ladrão que roubára na estrada de Sichem e outro que atirára facadas n’uma rixa em Emath!

N’um espaço ladrilhado de mosaico, em face do sólio onde se erguia o assento curul do Pretor sob a Loba Romana — Jesus estava de pé, com as mãos cruzadas e frouxamente ligadas por uma corda que rojava no chão. Um largo albornoz de lã grossa, em riscas pardas, orlado de franjas azues, cobria-o até aos pés, calçados de sandalias já gastas pelos caminhos do deserto e atadas com correias. Não lhe ensanguentava a cabeça essa corôa inhumana de espinhos, de que eu lêra nos Evangelhos; tinha um turbante branco, feito d’uma longa faxa de linho enrolada, cujas pontas lhe pendiam de cada lado sobre os hombros; um cordel amarrava-lh’o por baixo da barba encaracolada e aguda. Os cabellos sêccos, passados por traz das orelhas, cahiam-lhe em anneis pelas costas; e no rosto magro, requeimado, sob sobrancelhas densas, unidas n’um