só traço, negrejava com uma profundidade infinita o resplendor dos seus olhos. Não se movia, forte e sereno diante do Pretor. Só algum estremecimento das mãos presas trahia o tumulto do seu coração; e ás vezes respirava longamente, como se o seu peito, acostumado aos livres e claros ares dos montes e dos lagos de Galilêa, suffocasse entre aquelles marmores, sob o pesado velario romano, na estreiteza formalista da Lei.
A um lado, Sarêas, o vogal do Sanhedrin, tendo deposto no chão o seu manto e o seu baculo dourado, ia desenrolando e lendo uma tira escura de pergaminho, n’um murmurio cantado e dormente. Sentado n’um escabello, o Assessor romano, suffocado pelo calor já aspero do mez de Nizam, refrescava com um leque de folhas d’heras sêccas a face rapada e branca como um gesso: um escriba, velho e nedio, n’uma mesa de pedra cheia de tabularios e de regras de chumbo, aguçava miudamente os seus calamos: e entre ambos o interprete, um phenicio imberbe, sorria com a face no ar, com as mãos na cinta, arqueando o peito onde trazia pintado sobre a jaqueta de linho um papagaio vermelho. Em torno ao velario, constantemente voavam pombas. E foi