Mas o meu reino não é d’este mundo!

Um grito estrugiu, desesperado:

— Tirai-o então d’este mundo!

E logo, como lenha preparada que uma faisca inflamma, o furor dos Phariseus e dos serventes do Templo irrompeu, crepitando, em clamores impacientes:

— Crucificai-o! crucificai-o!

Pomposamente o interprete redizia em grego ao Pretor os brados tumultuosos, lançados na lingua syriaca que falla o povo em Judêa... Poncius bateu o borzeguim sobre o marmore. Os dois lictores ergueram ao ar as varas rematadas n’uma figura d’aguia: o escriba gritou o nome de Caio Tiberio: e logo os braços frementes se abaixaram, e foi como um terror diante da magestade do Povo Romano.

De novo Poncius fallou, lento e vago:

— Dizes então que és rei... E que vens tu fazer aqui?

Jesus deu outro passo para o Pretor. A sua sandalia pousou fortemente sobre as lages como se tomasse posse suprema da terra. E o que sahiu dos seus labios tremulos pareceu-me fulgurar, vivo no ar, como o resplendor que dos seus olhos negros sahiu.