— Assim foi a caridade do Rabbi! E estendeu-te elle a ponta do manto, como fazem os Rabbis de Jerusalem, para que lhe deitasses dentro um siclo de prata? Não. Disse aos seus amigos que te dessem da provisão de lentilha... E tu largaste a correr pelo caminho, refeito e agil, gritando para o lado da tua casa: «Oh mãi, oh mãi, estou curado!...» E foste tu, porco e filho de porco, que ha pouco no Pretorio pedias a cruz para o Rabbi e gritavas por Bar-Abbás! Não negues, bocca immunda; eu ouvi-te; estava por traz de ti, e via incharem-te as cordoveias do pescoço com o furor da tua ingratidão!

Alguns, escandalisados, gritavam: «maldito! maldito!» Um velho, com justiceira gravidade, apanhára duas grossas pedras. E o homem de Capárnaum, encolhido, esmagado, ainda rosnou surdamente:

— Não fui eu, não fui eu... Eu sou de Ramah!

Gad, furioso, agarrou-o pelas barbas:

— N’esse braço, quando o arregaçaste diante do Rabbi, todos te viram duas cicatrizes curvas como de dois golpes de foice!... E tu vaes mostral-as agora, cão e filho d’um cão!

Despedaçou-lhe a manga da tunica nova; arrastou-o em redor, apertado nas suas mãos