n’um esforço desesperado quizesse arrancar-se do madeiro — urrava sem descontinuar, medonhamente: o sangue pingava-lhe em gottas lentas dos pés negros, das mãos esgaçadas: e abandonado, sem affeição ou piedade que o assistissem, era como um lobo ferido que uiva e morre n’um brejo. O outro, delgado e louro, pendia sem um gemido, como uma haste de planta meio quebrada. Defronte d’elle uma mulher macilenta e em farrapos, passando a cada instante o joelho sobre a corda, estendia-lhe nos braços uma criancinha núa, e gritava, já rouca: «Olha ainda, olha ainda!» As palpebras lividas não se moviam: um negro, que entrouxava as ferramentas da crucificação, ia empurral-a com brandura: ella emmudecia, apertava desesperadamente o filho para que lh’o não levassem tambem, batendo os dentes, tremendo toda: e a criancinha entre os farrapos procurava o seio magro.

Soldados, sentados no chão, desdobravam as tunicas dos suppliciados: outros, com o elmo enfiado no braço, limpavam o suor — ou por uma malga de ferro, a goles lentos, bebiam a posca. E em baixo, na poeira da estrada, sob o sol mais dôce, passava gente recolhendo pacificamente dos campos e dos hortos. Um velho picava as