Depois quebrava-se o lacre do testamento na sala dos damascos, onde eu preparára para o tabellião Justino pasteis e vinho do Porto: carregado de luto, amparado ao marmore da mesa, eu afogava n’um lenço amarfanhado o escandaloso brilho da minha face: e d’entre as folhas de papel sellado sentia, rolando com um tinir d’ouro, rolando com um susurro de searas, rolando, rolando para mim os contos de G. Godinho!... Oh extasi!
O santo frade pousára o regador, e passeava com o Breviario aberto n’uma ruasinha de murta. Que faria eu, na minha casa em Sant’Anna, apenas levassem a fetida velha, amortalhada n’um habito de Nossa Senhora? Uma alta justiça: correr ao oratorio, apagar as luzes, desfolhar os ramos, abandonar os santos á escuridão e ao bolor! Sim, todo eu, Raposo e liberal, necessitava a desforra de me ter prostrado diante das suas figuras pintadas como um sordido sacrista, de me ter recommendado á sua influencia de calendario como um escravo credulo! Eu servira os santos para servir a titi. Mas agora, ineffavel deleite, ella na sua cova apodrecia: n’aquelles olhos, onde nunca escorrera uma lagrima caridosa, fervilhavam gulosamente os vermes: sob aquelles beiços,