dias á carteira, com mangas de lustrina, copiava cartas na minha letra de bellas curvas e alinhava algarismos n’um vasto Livro de Caixa... A Firma ensinára-me a «regra de tres», e outras habilidades. E, como de sementes trazidas por um vento casual a um torrão desaproveitado, rompem inesperadamente plantas uteis que prosperam — das lições da Firma brotaram, na minha inculta natureza de bacharel em leis, aptidões consideraveis para o negocio da fiação. Já a Firma dizia, compenetrada, na Assembléa do Carmo:
— Lá o meu Raposo, apesar de Coimbra e dos compendios que lhe metteram no caco, tem dedo para as coisas sérias!
Ora n’um sabbado d’agosto, á tarde, quando eu ia fechar o Livro de Caixa, Chrispim & C.ª parou diante da minha carteira, risonho e accendendo o charuto:
— Ouve lá, ó Raposão, tu a que missa costumas ir?
Silenciosamente, tirei a minha manga de lustrina.
— Eu pergunto isto, ajuntou logo a Firma, porque ámanhã vou com minha irmã á Outra Banda, a uma quinta nossa, á Ribeira. Ora se tu não estás muito apegado a outra missa, vinhas á de Santos, ás nove, iamos