que dava para o céo — a deshumana Adelia, estirada no sofá, de chinelas cahidas, beliscava os bordões, murmurando, por entre longos ais, cantigas de estranha saudade...
N’um arranco de ternura, eu ia ajoelhar-me á beira do seu peito. E lá vinha logo a dura, a regelada palavra:
— Está quieto, carraça!
E recusava-me sempre o seu carinho. Dizia-me: «não posso, estou com azia.» Dizia-me: «adeus, tenho a dôr na ilharga.»
Eu sacudia os joelhos, recolhia ao Campo de Sant’Anna — espoliado, miserrimo, chorando na escuridão da minha alma pelos tempos ineffaveis em que ella me chamava morcão!
Uma noite de julho, macia como um velludo preto e pespontada d’estrellas, chegando mais cedo a casa d’ella, encontrei a portinha aberta. O candieiro de petroline, pousado no soalho do patamar, enchia a escada de luz; — e dei com a Adelia, em saia branca, fallando a um rapaz de bigodinho louro, embrulhado pelintramente n’uma capa á hespanhola. Ella empallideceu, elle encolheu — quando eu surgi, grande e barbudo, com a minha bengala na mão. Depois a Adelia, sorrindo, sem perturbação, vera e limpida,