onde se destacava numa mancha clara o bocado do papel até aí resguardado pela tela.

- Por que tirou dali o retrato de papai?! perguntou Sara à mãe, com a voz alterada e o rosto pálido.

Ernestina corou: disse de um modo confuso que o retrato precisava de reparo... que o teria mandado ao pintor que o fizera; e inventou um desastre em que um desajeitamento do Augusto figurava como único responsável.

Tinha mentido e desviava a vista dos olhos claros da filha.

Cedera ao desejo de Luciano. O retrato do comendador tinha ido para S. Cristóvão, para a casa de uma mulher pobre, a Josefa, que a tinha criado e a quem ela protegia com uma pequena mesada.

Até então não se servira dessa criatura, que entretanto lhe aparecia agora como um recurso para segredos e aflições.

Sara retirou-se desconfiada e tristonha; ocorreu então a Ernestina ir à casa da ama e fazer voltar o retrato. Veio um clarão de bom raciocínio iluminar-lhe o espírito. Afinal, ela andava a fazer um papel de culpada; temia a filha como se o seu amor por Luciano fosse coisa ilegítima ou criminosa.

O que tinha a fazer era chamar Sara e dizer-lhe muito simplesmente: Luciano e eu amamo-nos e casar-nos-emos em breve...