foi que me deu o retrato dele? Mandou copiar outro novo lá pra sala?!
Ernestina não pôde deixar de sorrir àquela ingenuidade e, atraindo a velha para seu lado, contou-lhe tudo.
A Josefa era uma velhota acaboclada, baixa e ossuda, de ombros largos e direitos, queixo quadrado e mãos grandes. Gozara a preferência entre os antigos escravos dos pais de Ernestina por ser de uma limpeza e fidelidade sem exemplo. Toda a sua roupa andava recendendo às raízes do capim cheiroso e ela era o braço direito da casa. Quando a senhora morreu, Ernestina tinha só dois anos. A Josefa ficou encarregada de olhar por tudo: dirigia o serviço das outras, tratava da menina com esmero, trazendo-a sempre asseada e contente. Alforriada, não abandonou a casa. Era teimosa, de humor desigual, mas firme e amorável como um cão.
Tinha reminiscências muito claras de Luciano Dias. Embirrara sempre com ele. Farejara-lhe maus sentimentos. Tinha-lhe feito um mal terrível: apreendido cartas, rasgado fotografias, feito desaparecer muitos raminhos de flores por ele dirigidos à moça. Agora o que a comovia era a saudade de Sara. Já não tinha ascendente na família, nem a idade lhe consentia a mesma força de gênio. Estava quebrantada, mole; apoiou-se por isso todas as idéias de Ernestina sem contestar nem aconselhar cosa alguma;