Luciano saíra tonto! As palavras de Ernestina, o seu corpo esbelto, as atitudes provocantes, o aroma forte que a envolvia, e aquela cena de paixão e de enleio, tinham-no alvoroçado. Ele acostumara-se à serenidade um tanto fria da moça; o seu amor por ela já se ia tornando num hábito mais digno do nome de amizade. Agora, porém, as coisas mudavam e ele sentia que iam mudando a tempo.
Durante todo o resto do dia, vibraram nos seus ouvidos as expressões queixosas de Ernestina, e as narinas dilatavam-se-lhe, sentindo como que impregnada a essência dela no seu fato, na sua própria pele!
À tarde deveria procurar o Eugênio, mas às primeiras horas da noite ainda o encontraram em casa, e em casa ficou sem resolução, atado. A verdade era que, com o correr das horas, Ernestina ia cedendo lugar à filha, e ele sofria querendo e não podendo cumprir a extravagante missão que lhe dera a Simões.
Luciano mesmo estranhava aquela indecisão. Sara não lhe era nada, havia poucos dias apenas que percebera que ela não era feia e que tinha espírito. Procurava abster-se de pensar nela, mas o pensamento teimoso voltava a reproduzi-la num deleite amargo. À proporção que o tempo avançava, ele enfraquecia no propósito de obedecer a viúva. Não compreendia agora o amor de Sara por Eugênio Ribas.
Supunha a confidência