amado! E amara-o talvez por tanto ouvir falar dele; à força de vê-lo na intimidade da casa, de respirar aquela atmosfera em que o nome dele, o gosto dele, a ida dele pareciam impregnar-se; fora talvez por ter sido tratada por ele com pouca atenção... Nascera esse amor do ressentimento, morria na raiva!

Sara começou depois a passear pelo quarto, mordendo as mãos, sacudindo os ombros em movimentos fortes, sobressaltada, coberta de vergonha só com a idéia de que Luciano adivinhara o seu primeiro amor! Que a vira chorar, que demorara nas suas pupilas enternecidas os olhos pérfidos, que lhe apertara as mãos com modo enamorado, sentindo-a dele... toda dele! Revia tudo: as vozes... as luzes... o mar... as flores... o seu nome suspirado por ele num enlevo... aquele perfume, aqueles batimentos de coração... aquele despertar no amor, que a comovera tanto!

Enganada, enganada! Pensava ela com asco de si mesma, como se tivesse sido um crime a sua credulidade. A mãe tinha-lhe mentido. Tinham-lhe mentido todos que a rodeavam!

Começava a odiar toda a gente.

De repente estacou; a visita do Rosas ocorreu-lhe como a lembrança da maior ignomínia de toda a sua vida. E a mãe, que a tinha deixado sofrer tanto.

Pensou logo que Ernestina já não a amasse.