lhe doidamente pelo espírito. Suspendeu a viúva, pô-la no sofá agitando-lhe a cabeça numa almofada.

Julgava-a vítima de uma febre. Era delírio tudo aquilo: a sua vinda e aquelas palavras horríveis que o tinham despertado de um modo tão cruel.

- "Matei minha filha; salve minha filha!"

Luciano vestira um robe de chambre ao conhecer a voz de Ernestina, apressando-se em vê-la: agora fazia rapidamente a sua toilette, com o ouvido à escuta e o coração aos saltos.

Sara... Sara! Meu Deus! Que haveria de verdade em tudo isso? A ser delírio, não teriam deixado a doente sair aquela hora... sozinha... Loucura? Quem sabe?... Mas como? Por que teria enlouquecido Ernestina?... E no fundo do seu espírito debatia-se o medo de que realmente a viúva tivesse estrangulado a filha em um momento de ciúme...

Ao mesmo tempo a razão lembrava-lhe o amor daquela mãe, para quem a filha era o símbolo da perfeição na terra, o inexaurível manancial de todos os bens! Impressionado e perplexo, ele procurava às vezes interrogar a viúva, mas curvava-se para ela, sem ânimo de a despertar, abandonando-a naquela vertigem que a imobilizara completamente.

A chuva tinha engrossado e batia agora com força nos vidros da janela.