poder saboreá-lo. Em verdade o que ela saboreava mais não era a sopa, era a liberdade, era a janela francamente aberta, a variedade das caras e a variedade das coisas, a ausência do quarto de doente, com o seu cheiro enjoativo de remédios, cortinas descidas e o relógio estúpido, a dizer sobre a cômoda sempre o mesmo: tic, tac, tic, tac tic, tac!
Mas outras vizinhas vieram, boas, cuidadosas e, apesar de tudo, a Josefa, como um cão de guarda passava os dias sentada no banquinho, olhando para a viúva, cansada, triste esperando pelas horas da refeição para ir gozar lá fora, sob esse pretexto, o ar, a luz e a palestra.
- Tomara já que isto acabe! pensava ela, que Iaiá fique boa e Sarinha também. Ave Maria! Como estarão os meus cacos em S. Cristóvão!
A visão da casa atormentava-a muito. Via as baratas passeando sobre os pratos da marmelada, feitos para quitanda, na manhã da subida para Santa Tereza; lembrava-se de ter deixado fora do quarto, pendurado, à toa, o seu melhor vestido e parecia-lhe sentir o ruído dos dentinhos dos ratos nas roupas dos fregueses... Credo! Calculava os prejuízos, somava pelos dedos o que teria de pagar a um e a outro, e pasmava diante das cifras que se desenhavam em seu espírito em proporções enormes!
Uma noite, a Josefa teve um sonho que a decidiu a abandonar a doente por algum tempo.