falava sempre, Luciano mal o ouvia, com o pensamento afastado.
Atravessavam agora a rua da Lapa.
Moças cheias de fitinhas e de papelotes recostavam-se ao peitoral das janelas baixas; na calçada os moleques assobiavam o Chegou, chegou, chegou, e os baleiros roçavam pelas crianças, oferecendo-lhes balas. Ali não podiam conversar, a calçada era estreita, muito atravancada; Luciano caminhava atrás do Rosas, reparando para os tipos, admirado de ver tão poucas pretas. Uma ou outra mulata cruzava-se de vez em quando no caminho, carregada de essências e de laços, muito espartilhada, exagerando a moda do vestido e do penteado. Onde se teriam metido os pretos do ganho, os minas, de cara retalhada, rodilha na cabeça, cesto na mão? E o fervilhamento de crioulas na rua, de vestido de riscado e manga curta, mais a quantidade de formosas baianas, muito limpas, como seu belo traje flamante, a camisa de renda, o turbante airoso, o pescoço e os braços cheios de contas de vidro e de corais, a manta riscada, a tiracolo, a sala muito franzida rebolando aos movimentos dos sólidos quadris carnudos, e as chinelinhas tac-que-tac nas calçadas?
E os chins de trança longa, roupa de algodão grosso, vara no ombro gigos pendentes, percorrendo as ruas num passo apressado e ferindo o ar com a sua voz achatada - camalon - péce!?