E os crioulos que vendiam calçado em caixas envidraçadas, apregoando, numa melopéia grave e prolongada - Sapato! E as gôndolas, diligências desengonçadas, suspensas sobre as suas quatro rodas altas, rodando aos solavancos sobre os paralelepípedos, num fracasso tremendo? E os meninos vendedores de cana, entoando musicalmente:
- Vai cana, sinhá, vai cana sinhá, vai cana sinhá, bem doce!? E os carregadores de pianos, empunhando o caracaxá tradicional, que vinha desde longe num rumor inconfundível?
Que vento dispersara aquela gente? para que país teriam fugido todos aqueles tipos a que se habituara na infância? Agora só via caras estrangeiradas, muitos italianos, turcos imundos, quase toda a gente branca, muito luxo, muitas equipagens, cavalos de raça guiados por titulares, com lacaios e grooms ingleses, muitas toilettes vistosas, muitos brilhantes e uma variedade infinita da cores nas bandejas de balas e nas cabeças das burguezinhas pobres, cheias de papelotes!
De dia para dia as coisas mudam de aspecto e muda a observação dos olhos que as vêem. Luciano sentia saudades da sua maneira dever e de sentir de outrora! Então as impressões ficavam-lhe sem que o espírito as analisasse, agora submetia tudo a crítica e a comparação estúpida e fatigante, sem conseguir fixar bem no espírito o caráter