ouro, solto pelas costas, numa trança lassa. Ela ia, ora batida de sombra, ora toda vestida de sol, sem saber para onde, parando aqui, ali, voltando para trás, desfolhando sem piedade as grandes flores roxas do maracujá ou as flores perfumosas dos limoeiros, batendo com os pés nos cajás soltos, nas carambolas e nas ameixas de Madagascar, espalhadas no chão. O seu desejo era que aquele bom sol, enorme e fecundante, incendiasse num momento todas aquelas limeiras e cidreiras, os pés de sapoti, de pinhas, de genipapo a dos abius, as figueiras, as ameixeiras, o laranjal, os bambus, as jabuticabeiras, os pés da grumixama e de abricó, todas as velhas árvores amadas e o roseiral, e a casa, e ela e tudo!
De repente estacou; os joelhos vergaram-se-lhe - e rebentou em soluços. Em frente dela erguia-se o vulto enorme e sombrio de uma mangueira que tinha sido sempre ali a árvore predileta do pai.
Sara deixou cair na terra dura o seu corpo branco e cansado. A mangueira era no alto, no extremo da chácara; estendia para todos os lados os seus poderosos braços tranqüilos, de onde pendia a erva - barba de velho, caindo em fios longos, que lhe davam um aspecto de vetusta e doce austeridade.
Sara quedou-se imóvel, sobre as raízes da mangueira, que se salientavam na terra escura,