como uma vigorosa ramificação de nervos. Lá embaixo, ao longe, a cidade atirava ao ar rolos de fumaça, e como que a evaporação do suor do trabalho, que parecia subir em camadas contínuas, densas, distintas na atmosfera. No mar, que a muita luz empalidecia, distinguiam-se os cascos negros dos navios mercantes e as chaminés bojudas dos paquetes. A febre dos dias de semana rumorejava num delírio rouco, cortado de vez em quando por um ou outro silvo agudíssimo, das máquinas de alguma fabrica...
O Rio de Janeiro arfava. De todos os telhados parecia elevar-se, ignota e grande, a dor da luta pela vida.
A felicidade, o luxo, a miséria, o dinheiro, o gozo, a raiva, o esplendor, a fé, a mentira, a paz e a desordem, tudo ela via dali, na suprema glorificação da luz de ouro que tombava a jorros do céu violáceo.
O teatro, o hospício, as igrejas, as fábricas, os cães, os jardins, os palácios, os casebres, o mar, o arvoredo, o cemitério, tudo se unia e se confundia na fogueira do sol, na vida da grande e poderosa cidade.
Sara chorava baixinho.
Aquela mangueira muda, serena, com a sua velha casca rugosa, as suas nodosidades cobertas de cambaxilras, as suas folhas sombrias e abertas; e as suas parasitas, quebrava-lhe a excitação raivosa numa onda de ternura. Era ali que o comendador