— Il.mo e ex.mo sr. — Tenho grande satisfação em comunicar a v. ex.a que por toda esta semana devem ficar prontas as obras da capela...»
— É do Silvério? — exclamei.
— É do Silvério, «...as obras da capela nova. Os venerandos restos dos excelsos avós de v. ex.a, senhores de todo o meu respeito, podem pois ser em breve trasladados da igreja de S. José, onde têm estado depositados por bondade do nosso Abade, que muito se recomenda a v. ex.a... Submisso aguardo as prestantes ordens de v. ex.a a respeito desta majestosa e aflitiva cerimónia...»
Atirei os braços, compreendendo:
— Ah! bem! Queres ir assistir à trasladação...
Jacinto sumiu a carta no bolso.
— Pois não te parece, Zé Fernandes? Não é por causa dos outros avós, que são ossos vagos, e que eu não conheci. É por causa do avô Galião... Também não o conheci. Mas este 202 está cheio dele; tu estás deitado na cama dele; eu ainda uso o relógio dele. Não posso abandonar ao Silvério e aos caseiros o cuidado de o instalarem no seu jazigo novo. Há aqui um escrúpulo de decência, de elegância moral... Enfim, decidi. Apertei os punhos na cabeça, e gritei — vou a Tormes! E vou!... E tu vens!
Eu enfiara as chinelas, apertava os cordões do roupão:
— Mas tu sabes, meu bom Jacinto, que a casa de Tormes está inabitável...
Ele cravou em mim os olhos aterrados.
— Medonha, hem?
— Medonha, medonha, não... É uma bela casa, de bela pedra. Mas os caseiros, que lá vivem há