A CIDADE E AS SERRAS

no dia de Juízo, cada um destes fidalgos apresentará os ossos que lhe pertencerem.

Lançava estas coisas macabras e tremendas, penetrado de respeito, quase com majestade, espetando, ora em mim, ora no meu Príncipe, os olhinhos agudos e reluzentes como vidrilhos.

Eu aprovei o pitoresco homem:

— Perfeitamente! Andou perfeitamente, amigo Silvério. São tão vagos, tão anónimos, todos esses avós! Só faz pena, grande pena, que se tresmalhassem os restos do avô Galião.

— Não estava cá! — acudiu Jacinto. — Vim a Tormes expressamente por causa do avô Galião, e por fim o seu jazigo nunca foi aqui, na Capelinha da Carriça... Felizmente!

O Silvério sacudia gravemente a calva trigueira:

— Nunca tivemos o ex.mo sr. Galião. Há cem anos, Sr. Fernandes, há cem anos que se não depositava na capela velha corpo de cavalheiro cá da casa.

— Onde estarão então ?...

O meu Príncipe encolheu os ombros. Por esse Reino... Na igrejinha, no cemitério de alguma das freguesias numerosas, onde ele possuía terras. Casa tão espalhada!

— Bem! — concluí. — Então, como se trata de ossadas vagas, sem nome, sem data, convém uma cerimòniazinha muito simples, muito sóbria.

— Quietinha, quietinha! — murmurou o Silvério, dando um forte sorvo assobiado ao café.

E foi quietinha, duma rústica e doce singeleza, a cerimónia daqueles altos senhores. Cedo, por uma manhã, levemente enevoada, os oito caixões

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