A CIDADE E AS SERRAS

muita singeleza por serem tão incertos, quase impessoais, aqueles restos, que nós estabeleceríamos na Capelinha do vale da Carriça, na Capelinha toda nova, toda nua e toda fria, ainda sem alma e sem calor de Deus.

— Porque enfim v. ex.a compreende — explicava o Silvério passando o guardanapo por sobre a larga face suada e por sobre as imensas barbas negras, como as dum turco, — naquela mixórdia... Oh! peço desculpa a v. ex.a! Naquela confusão, quando tudo desabou, não pudemos mais conhecer a quem pertenciam os ossos. Nem sequer, falando verdade, nós sabíamos bem que dignos avós de v. ex.a jaziam na capela velha, assim tão antigos, com os letreiros apagados, senhores de todo o nosso respeito, certamente, mas, se v. ex.a me permite, senhores já muito desfeitos... Depois veio o desastre, a mixórdia. E aqui está o que decidi, depois de pensar. Mandei arranjar tantos caixões de chumbo, quantas as caveiras que se apanharam lá em baixo na Carriça, entre o lixo e o pedregulho. Havia sete caveiras e meia. Quero dizer, sete caveiras e uma caveirinha pequenina. Metemos cada caveira em seu caixão. Depois: Que quer v. ex.a? Não havia outro meio! E aqui o Sr. Fernandes dirá se não acha que procedemos com habilidade. A cada caveira juntámos uma certa porção de ossos, uma porção razoável... Não havia outro meio... Nem todos os ossos se acharam. Canelas, por exemplo, faltavam! E é bem possível que as costelas dum daqueles senhores ficassem com a cabeça de outro... Mas quem podia saber? Só Deus. Enfim fizemos o que a prudência mandava... Depois,

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