A CIDADE E AS SERRAS

Dentro as curtas chamas mal luziam, mal derramavam a sua amarelidão triste, esbatidas na reluzente brancura dos muros estucados, na jovial claridade que caía das altas vidraças bem polidas. Em torno dos esquifes, pousados sobre bancos, que pesados veludilhos recobriam, o abade murmurava um suave latim, enquanto ao fundo as mulheres, sumidas na sombra dos seus negros lenços, gemiam améns agudos, abafavam um respeitoso soluço. Depois, tomando levemente o hissope, ainda o bom abade aspergiu, para uma derradeira purificação, os incertos ossos dos incertos Jacintos. E todos desfilámos por diante do meu Príncipe, timidamente encostado à ombreira, com o Silvério ao lado esmagando contra o peitilho as barbas imensas, a face descaída, cerradas as pálpebras como contendo lágrimas.

No adro, o meu Príncipe acendeu regaladamente um cigarro pedido ao Melchior:

— E então, Zé Fernandes, que te pareceu a cerimòniazinha?

— Muito campestre, muito suave, muito risonha... Uma delícia.

Mas o Abade, que se desvestira na Sacristia, apareceu, já com o seu grande casaco de lustrina, o seu velho chapéu desabado, trazidos pelo moço da Residência, num saco de chita. Jacinto, imediatamente lhe agradeceu tantos cuidados, a afável hospitalidade que oferecera aos ossos, durante a construção da Capelinha nova. E o suave velho, todo branquinho, de faces ainda menineiras e coradas, com um claro sorriso de dentes sadios, louvava Jacinto, que assim viera de tão longe, em

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