tão longa jornada, para cumprir aquele dever de bom neto.
— São avós muito remotos, e agora tão confusos! — murmurava Jacinto, sorrindo.
— Pois mais mérito ainda o de v. ex.a . Respeitar um avô morto, bem é corrente... Mas respeitar os ossos dum quinto avô, dum sétimo avô!
— Sobretudo, Sr. Abade, quando deles nada se sabe, e naturalmente nada fizeram.
O velho sacudiu risonhamente o dedo gordo:
— Ora quem sabe, quem sabe! Talvez fossem excelentes! E por fim, quem muito se demora no mundo, como eu, termina por se convencer que no mundo não há coisa ou ser inútil. Ainda ontem eu lia num jornal do Porto, que por fim, segundo se descobriu, são as minhocas que estrumam e lavram a terra, antes de chegar o lavrador e os bois com o arado. Até as minhocas são úteis. Não há nada inútil... Eu tinha lá na residência uma porção de cardos a um canto da horta, que me afligiam. Pois reflecti e terminei por me regalar com eles em xarope. Os avós de v. ex.a por cá andaram, por cá trabalharam, por cá padeceram. Quer dizer: por cá serviram. E, em todo o caso, que lhes rezemos um Padre-Nosso por alma, não lhes pode fazer senão bem, a eles e a nós.
E assim, docemente filosofando, parámos num souto de carvalheiras, onde esperava a velhíssima égua do Abade, porque o santo homem agora, depois do reumatismo do último Inverno, já não afrontava rijamente como antes os trilhos duros da serra. Para ele montar, filialmente Jacinto segurou o estribo. E enquanto a égua se empurrava pelo córrego acima, quase tapada sob o