A CIDADE E AS SERRAS

quais, segundo diz não sei que Filósofo, nunca se foi um verdadeiro homem... Fazer um filho, plantar uma árvore, escrever um livro. Tens de te apressar, para ser um homem. É possível que talvez nunca prestasses um serviço a uma árvore, como se presta a um semelhante!

— Sim... Em Paris, quando era pequeno, regava os lilases. E no Verão é um belo serviço! Mas nunca semeei.

E como o Manuel descia da escada, o meu Príncipe, que nunca acreditara inteiramente — pobre homem! — no meu saber agrícola, imediatamente reclamou o parecer daquela autoridade:

— Oh Manuel, ouça lá, o que é que se poderia agora semear?

Com o cesto das laranjas enfiado no braço, o Manuel exclamou, através dum lento riso, entre respeitoso e divertido:

— Semear, patrão? Agora é antes colher... Olhe que já se anda a limpar a eirazinha para a debulha, meu patrão.

— Pois sim... Mas sem ser milho nem cevada... Então ali no pomar, rente do muro velho, não se podia plantar uma fila de pessegueiros?

O riso do Manuel crescia.

— Isso sim, meu senhor! Isso é lá para os Santos ou para o Natal. Agora só a couvinha na horta, a beldroega, os espinafres, algum feijãozinho em terra muito fresca...

O meu Príncipe sacudiu, com brando gesto, estes legumes rasteiros.

— Bem, boa-noite, Manuel. Essas laranjas são da tal laranjeira que diz o Melchior, muito doces,

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