A CIDADE E AS SERRAS

E como eu os considerava esgazeado, o Dr. Alipio — tão agudo! — confirmou:

— É o que corre... Disfarçado em criado!

Em criado? Oh! Santo Deus! Era o Baptista! Justamente, Ricardo Veloso veio, puxando do seu cigarrinho, para o acender no meu charuto. E o bom Rebelo logo invocou o seu testemunho. — Pois não corria, que o filho de D. Miguel estava em Tormes, escondido?...

— Disfarçado em lacaio — confirmou logo o digno Rebelo.

Acendeu o cigarro, soprou o fumo, e erguendo muito as sobrancelhas meditativas:

— Se assim é, lá me parece desplante... Quo eu não desgostava de o ver. Dizem que é bonito moço, bem apessoado. Mas enfim, meu tio João Vaz Rebelo foi partido às postas, a machado, nas prisões de Almeida... E se recomeçam essa? questões, mau, mau! Ora o seu amigo...

Emudeceu. Jacinto, que se libertara do velho D. Teotónio, e ainda conservava um resto de riso, de assombro divertido, vinha para mim, desabafar.

— Extraordinário! Vejo que, aqui, na serra, ainda se conservam, sem uma ruga, as velhas e boas ideias...

Imediatamente, sem se conter, Melo Rebelo acudiu:

— É conforme o que V. Ex.a chama boas ideias.

E eu agora, furioso com aquela disparatada invenção, que cercava de hostilidade o meu pobre Jacinto, estragava aquela amável noite de anos, intervim, vivamente:

— Tu jogas o voltarete, Jacinto? Não jogas...

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