A CIDADE E AS SERRAS

Então vamos arranjar duas mesas... O D. Teotónio há-de querer cartas.

E arrastei Jacinto para as senhoras, que de novo se aninhavam à sombra da tia Vicência, estabelecida no seu canto do sofá. Todos se calavam, parecia encolherem-se ante a aparição do meu Príncipe, como pombas avistando o abutre. E deixei o temido homem afirmando à mulher do Dr. Alípio (um pouco desgarrada do bando das aves tímidas) que lhe dera grande prazer aquela ocasião de conhecer as suas vizinhas de Tormes... Ela abrira nervosamente o leque, sorria, e nunca decerto Jacinto admirara na Cidade uma boca mais vermelha, dentinhos mais rutilantes. Mas depois de organizar a mesa do voltarete, tive de abancar, eu, para substituir o Manuel Albergaria, que era dispéptico, se declarara «afrontado», e desejava respirar um momento na varanda. Todos aqueles cavalheiros, de resto, se queixavam de calor. Mandei abrir as janelas que davam sobre as mimosas do pátio. O Veloso, ao baralhar, parava, bufando, como oprimido:

— Está abafado... Ainda temos trovoada!

E o Dr. Alípio, inquieto, por que tinha uma hora de estrada até casa, e uma das éguas da caleche era escabreada, correu à janela, espreitar o céu, que enegrecera, morno e pesado.

— Com efeito, vai cair água.

As hastes das mimosas ramalhavam, arrepiadas; e o ar que agitava as cortinas era intermitente, estonteado. Decerto na sala, entre as senhoras, surgira a mesma inquietação, porque a tia Albergaria apareceu, avisando o mano Jorge.

Era prudente pensar em partir, a noite ameaçava...

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