A CIDADE E AS SERRAS

O tanque, redondo, fora esvaziado para se lavar, e agora de novo o repuxo o ia enchendo duma água muito clara, ainda baixa, onde os peixes vermelhos se agitavam na alegria de recuperarem o seu pequeno oceano. Sobre um dos bancos de pedra que circundavam o tanque, pousava um cesto cheio de dálias cortadas. E um moço, que sobre uma escada podava as camélias, vira a Sr.a D. Joana seguir para o lado da parreira.

Marchámos para a parreira, ainda toda carregada de uva preta. Duas mulheres, longe, ensaboavam num lavadouro, na sombra de grandes nogueiras. Gritei : — Eh lá ? Vocês viram por aí a Sr.a D. Joana? Uma das moças esganiçou a voz, que se perdeu no vasto ar luminoso e doce.

— Bem: vamos a casa! Não podemos farejar assim, toda a tarde.

— É uma bela quinta — murmurava o meu Príncipe, encantado.

— Magnífica! E bem tratada... O tio Adrião teve um feitor excelente... Não é o teu Melchior. Observa, aprende, lavrador! Olha aquele cebolinho!

Passámos pela horta, uma horta ajardinada, como a sonhara o meu Príncipe, com os seus talhões debruados de alfazema, e madressilva enroscada nos pilares de pedra, que faziam ruazinhas frescas toldadas de parra densa. E demos volta à capela, onde crescia aos dois lados da porta uma roseira-chá, com uma rosa única, muito aberta, e uma mouta de baunilha, onde Jacinto apanhou um raminho para cheirar. Depois entrámos no

terraço em frente da casa, com a sua balaustrada

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