A CIDADE E AS SERRAS

verídica rugindo pavorosamente, bonecas vestidas pela Laferrière, com fonógrafo no ventre...

Finalmente abalei uma tarde, depois de lançar da minha janela, sobre o Boulevard, as minhas despedidas à Cidade:

— Pois adeuzinho, até nunca mais! Na lama do teu vício e na poeira da tua vaidade, outra vez, não me pilhas! O que tens de bom, que é o teu génio, elegante e claro, lá o receberei na Serra pelo correio. Adeuzinho!

Na tarde do seguinte domingo, debruçado da janela do comboio, que vagarosamente deslizava pela borda do rio lento, num silêncio todo feito de azul e sol, avistei, na plataforma da quieta estação da minha aldeia, os Senhores de Tormes, com a minha afilhada Teresa, muito vermelha, arregalando os seus soberbos olhos, e o bravo Jacintinho, que empunhava uma bandeira branca. O alvoroço ditoso com que abracei e beijei aquela tribo bem-amada, conviria perfeitamente a quem voltasse vivo duma guerra distante, na Tartária. Na alegria de recuperar a Serra, até beijoquei o chefe Pimentinha, que a estalar de obesidade se açodava gritando ao carregador todo o cuidado com as minhas malas.

Jacinto, magnífico, de grande chapéu serrano e jaqueta, de novo me abraçou:

— E esse Paris?

— Medonho!

Abri depois os braços para o bravo Jacintinho. — Então para que é essa bandeira, meu cavaleiro?

— É a bandeira do Castelo! — declarou ele com uma bela seriedade nos seus grandes olhos.

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