Página:A correspondencia de Fradique Mendes (1902).djvu/109

experimental. «Estou em presença destas (escreve ele a Madame de Jouarre), como em face duma carta alheia fechada com sinete e lacre». Na presença, porém, daquelas que se «exteriorizam» e vivem todas no ruído e na fantasia, Fradique achava-se tão livre e tão irresponsável como perante um volume impresso. «Folhear o livro (diz ele ainda a Madame de Jouarre), anotá-lo nas margens acetinadas, criticá-lo em voz alta com independência e veia, levá-lo no cupé para ler à noite em casa, aconselhá-lo a um amigo, atirá-lo para um canto percorridas as melhores páginas—é bem permitido, creio eu, segundo a Cartilha e o Código».

Seriam estas subtilezas (como sugeria um cruel amigo nosso) as dum homem que teoriza e idealiza o seu temperamento de carrejão, para o tornar literariamente interessante? Não sei. O comentário mais instrutivo das suas teorias dava-o ele, visto numa sala, entre «o efêmero feminino». Certas mulheres muito voluptuosas, quando escutam um homem que as perturba, abrem insensivelmente os lábios. Em Fradique eram os olhos que se alargavam. Tinha-os pequenos e cor de tabaco: mas junto duma dessas mulheres de exterior, «estrelas de mundanismo», tornavam-se-lhe imensos, cheios de luz negra, aveludados, quase úmidos. A velha lady Mongrave comparava-os, «às goelas abertas de duas serpentes». Havia ali, com efeito, um ato de aliciação e de absorção—mas havia sobretudo a evidência