De maior duração e intensidade que os seus amores, foram todavia as amizades que Fradique a si atraiu pela sua excelência moral. Quando eu conheci Fradique em Lisboa, no remoto ano de 1867, julguei sentir na sua natureza (como no seu verso), uma impassibilidade brilhante e metálica: e através da admiração que me deixara a sua arte, a sua personalidade, o seu viço, a sua cabaia de seda—confessei um dia a J. Teixeira de Azevedo, que não encontrara no poeta das LAPIDÁRIAS aquele tépido leite da bondade humana, sem o qual o velho Shakespeare (nem eu, depois dele) , compreendia que um homem fosse digno da humanidade. A sua mesma polidez, tão risonha e perfeita, me parecera mais composta por um sistema do que genuinamente ingênita. Decerto, porém, concorreu para a formação deste juízo uma carta (já velha, de 1855) que alguém me confiou, e em que Fradique, com toda a leviana altivez da mocidade, lançava este rude programa de conduta:—«Os homens nasceram para trabalhar, as mulheres para chorar, e nós, os fortes, para passar friamente através!...»
Mas em 1880, quando a nossa intimidade uma noite se fixou a uma mesa do Bignon, Fradique tinha cinquenta anos: e, ou porque eu então o observasse com uma assiduidade mais penetrante, ou porque nele se tivesse já operado com a idade esse fenômeno que Fustan de Carmanges chamou depois le